A Pesca das Artes
A pesca tradicional do arrasto é uma técnica de pesca artesanal, de rede envolvente de alar para a praia, praticada na costa portuguesa desde tempos remotos. Na família das “redes envolventes” incluem-se: a xávega algarvia, a chincha, o chinchorro, a varina, a mugiganga, a tarrafa, entre outras. A rede – ou o conjunto da rede e os cabos que a manobram – é denominada por “artes”. As expressões arte, obra, arte real, rede real, ou xávega, terão origem mediterrânica, das regiões do sul de França, da Catalunha ou da Andaluzia. Na obra “Palheiros de Mira”, Raquel Soeiro de Brito, descreveu as “artes” de Mira como sendo formadas por um saco ou cuada, de rede de malha apertada e fio grosso, cuja boca se prolongava, para um e outro lado, por duas compridas asas (mangas ou alares) igualmente em rede, diminuindo a sua altura para as extremidades. Tudo num total de 700 metros de comprimento. Era encascada (tinta) com casca de salgueiro, em grandes caldeirões de ferro. As embarcações tinham cerca de 15 metros de comprimento e forma de meia-lua, para poderem vencer a rebentação, e equipados com quatro possantes remos, movidos pela força de 40 homens. As artes eram lançadas ao mar num movimento semicircular e juntas de bois na praia puxavam os dois cabos da rede, até fechar o cerco.


Arriba! Arriba! Viva! Viva!
“as mulheres e os almocreves excitados deitam a mão à rede e o saco sai da água, a rasto pela areia, entre laivos verdes que escorrem…”- Raul Brandão, os pescadores, 1923.
“antes de 1926, como não havia estrada que ligasse a praia com o interior, o peixe era transportado em ‘comboios’ de carros de bois por pistas na areia, até Cantanhede, donde seguia, em geral por caminho de ferro, para o interior. também era frequente o movimento de galeras de muares, levando o peixe para Coimbra. Havia então pessoas que só se dedicavam a este trabalho. Com a abertura da estrada, que terminou em 1929, começaram as caminhetas a vir buscar aqui o peixe, acabando o transporte com animais” – Raquel Soeiro de Brito, Palheiros de Mira, 1960
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